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sexta-feira, 29 de março de 2013

ARTIGO

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Seu Jorge está dormindo na minha porta
(Clara Gurgel)


Seu Jorge chega só para dormir. Pelo menos tenta. Nunca pede nada. Se ajeita no papelão e nos poucos trapos sujos que carrega consigo. Sim, há um mendigo dormindo na minha porta, sob meus olhos. Converso com ele. Pergunto porque não procura o abrigo da prefeitura. Ele me diz que já esteve por lá mas não gostou, que se vira melhor na rua. Diz também que "era bem de vida". Que perdeu tudo quando colocaram fogo no seu barraco. Começa a chover. Chuva forte que incomoda. Não menos que saber que Seu Jorge está lá fora encharcado. Abro o armário e pego uma dessas capas de chuva, compradas para dias de jogo em estádios de futebol. Será que Seu Jorge já foi a algum jogo? Penso abobalhadamente, enquanto digo para o homem ali deitado: "Seu Jorge, levante os braços. Isso! Agora a bunda, Seu Jorge..." (a boca banguela se escangalha de rir). Os meninos passam por ele e o cumprimentam. Davi pergunta: "Seu Jorge, que música que você canta?" A música que ele canta ninguém ouve, filho. Nem sabem que ele fala, sequer o enxergam. Esse Seu Jorge é outro, filho. Outro que ninguém quer. E a vida segue...

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