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quinta-feira, 7 de março de 2013

ARTIGO

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O PIB parado no porto
 (Valdir Dias)

A Presidência da República avalia a possibilidade de uma visita da presidenta Dilma Rousseff ao Guarujá, nos próximos dias, para entregar um dos rebocadores encomendados pela Petrobras a um estaleiro da cidade. Caso a visita venha a se concretizar, Dilma poderá descobrir um dos principais motivos pelos quais a economia brasileira anda para trás. E quando anda.
 Conhecida por seu destempero verbal, a chefe da Nação com certeza resmungará para seu interlocutor ao lado que de nada adiantam os esforços de Brasília para reaquecer a economia, se toda a produção nacional acaba parada no porto.  A verdade estará estampada nas palavras dela, já que há algumas semanas o caos se instalou na zona portuária de Santos e Guarujá, por conta da falta de estrutura para escoamento da demanda. A vantagem dos santistas é que boa parte do tráfego de caminhões com destino ao estaleiro já foi segregado.
 No caso de Guarujá, o congestionamento não se resume mais à Rua do Adubo, uma solução cruel, implantada no passado para garantir o acesso de caminhões ao cais que se costumava chamar de margem esquerda. A fila de caminhões, agora, se espalha pelos bairros e se estende por vários quilômetros da rodovia Cônego Domênico Rangoni, isolando a cidade que também tem outras vocações econômicas, inclusive a turística.
 Em uma rápida passagem pela estrada parada, é possível contar mais de uma dezena de caminhões-cegonha, estes que transportam automóveis destinados à exportação e que são parte primordial do nosso Produto Interno Bruto, o PIB. Também é possível verificar que falta de tudo em termos de inteligência e logística. O mundo moderno, onde as possibilidades de comunicação superam os sonhos lunáticos da ficção de outrora, não permite mais tanta ineficiência.
 Enquanto no mar é visual a fila de navios, nas zonas portuárias das duas cidades o cheiro é de gás carbônico e de incompetência do próprio Governo Federal, a quem compete cuidar desta infraestrutura. Uma das diferenças entre os problemas que Santos e Guarujá enfrentam foi descoberta há anos, talvez pelo acaso, nas palavras do saudoso jornalista José Rodrigues, um especialista em assuntos portuários, para quem a cidade de Santos é que tinha um porto. Em Guarujá, é o contrário o que ocorre. É o porto que tem uma cidade. E quando tem.
 A trilha sonora deste drama urbano também já foi escrita há tempos, no álbum de 1974, da roqueira Rita Lee. Nas letras do disco “Atrás do porto tem uma cidade”, Rita Lee lança seus manifestos mais psicodélicos e conclui seus “raciocínios” de forma brilhante, com a afirmação de que no fim das contas estamos sempre dando voltas num círculo vicioso, perigoso para o sistema nervoso.

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